É 16 de março de 2020, aniversário da cidade, e interrompo meus planos de almoçar na casa da minha irmã devido a uma dor de origem desconhecida que lateja ao lado esquerdo do meu abdômen. Espero para ver se passa, sem sucesso.
Me vejo obrigada a chamar um Uber, meu irmão me acompanha até o hospital, mas não deixo que ele entre comigo. ‘Detesto ir à emergência’, mas não tem jeito. Misteriosamente, a dor que me deixou prostrada minutos antes passa quase que instantaneamente quando faço a triagem.
Medidor de pressão. 12/08. Termômetro. 37°. Vou para outra sala. Gel gelado na barriga. Enquanto espero o resultado sair, ouço uma médica falando baixinho que sua paciente testou positivo. Meus olhos se arregalam. Medo. ‘O que estou fazendo aqui?’. Algumas pessoas estão de máscara, outras não. Eu estou sem. Nada no ultrassom. Não há diagnóstico para a dor que senti e desapareceu, só uma suspeita de pedra nos rins.
Naquela terça-feira, quando volto da emergência, as lojas do centro de Petrópolis fecham mais cedo. Sinto um vento na rua que está mais deserta que de costume e vejo o desespero do atendente do Spoleto, dizendo que só quer ir rápido pra casa e vai fechar o restaurante em poucos minutos. Não são nem seis da tarde.
No dia seguinte, vou ao escritório buscar o notebook e só volto um ano depois para devolvê-lo, quando consigo outro trabalho. Àquela época, penso que nunca mais vou soprar uma vela de bolo, que nunca mais encostarei no copo de outra pessoa. Acredito, ingenuamente, que o costume cultural de cumprimentar pessoas não tão próximas com abraços será uma das coisas boas que permanecerão após o pior passar.
Eu, que era mais dos filmes, adoto as séries e programas culinários como companhia. Casamento às cegas, Grey 's Anatomy e Rita Lobo se tornam minha obsessão. Asso pão duro, aprendo a fazer risoto, me despeço de incontáveis fios de cabelo no ralo do banheiro. Ouço sobre pessoas que perderam pessoas. Tenho pavor de perder também.
O pior passa, então, vagarosamente. Em 2021, me emociono num domingo ao ver a enfermeira Mônica recebendo a primeira dose da vacina, no Brasil. Sinto alívio ao ver minha mãe vacinada. Fico eufórica quando chega minha vez, meses depois. Talvez eu tenha saltitado no caminho para tomar a injeção mais feliz da minha vida. Talvez eu tenha flutuado. É um lindo dia de inverno, com céu azul e nenhuma nuvem.
Parece que foi ontem. Parece que foi num passado longínquo. 4 anos depois, sou grata, sobrevivemos.
🗣️Saiu o encontro que reúne os participantes da temporada mais recente de Casamento às Cegas Estados Unidos, na última quarta-feira, e tá babado!
😷Este artigo da CNN lista 4 coisas que aprendemos após 4 anos do início da pandemia.
🍋 A musa Rita Lobo ensina um risoto de limão siciliano neste vídeo. Já fiz, pode confiar que dá certo.
🎧 Esse episódio do podcast ‘gostosas também choram’ é um manual de sobrevivência a dias ruins. Vale ouvir
Caso você tenha perdido a edição anterior, leia aqui.
Por hoje é só. Até semana que vem.
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Com Carinho,
Angela Lemos